Literatura Regional da Nova Alta Paulista: o que essa arte diz sobre nós?

Literatura Regional da Nova Alta Paulista: o que essa arte diz sobre nós?

Projeto Nossa Gente, Conselho Municipal de Cultura e Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Adamantina realizaram 1ª Semana Literária de Adamantina, entre os dias 22 e 25 de abril, oportunidade que ocorreu o 1º Encontro Regional de Escritores

28/04/25, às 11h00

Prof.ª Dr.ª Izabel Castanha Gil – coordenadora do Projeto Nossa Gente/PROEXT

Revisão de: Priscila Caldeira

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Em prosa ou verso, a literatura é a arte que usa a linguagem escrita como forma de expressão. Nela há princípios teóricos e práticos, escritos ou orais, aos quais se imprime valor estético. Ela se origina na escrita, que atravessa milênios, desde que os sumérios, na antiga Mesopotâmia, a criaram com o intuito de registrar as colheitas e os rebanhos. Devido à praticidade, ela se popularizou entre outros povos, passando por várias transformações, até a forma como a conhecemos, tornando-se uma das principais linguagens do ser humano.

Por necessidade funcional dos registros ou como expressão da sensibilidade humana, a escrita evoluiu, sendo a literatura a codificação escrita das manifestações de um povo. Por meio dela, registrados por mãos sensíveis e hábeis, conhecemos lugares, costumes, religiões, comportamentos, tragédias, bonanças, distinguimos épocas, adentramos palácios e casebres, cidades e campos, aventuras e calmarias, conquistas épicas e flagelos, entre tantas outras manifestações humanas e da natureza.

Quanto da riqueza multicultural e paisagística brasileira conhecemos com os clássicos da literatura nas leituras escolares ou naquelas acessadas por interesse próprio. Nos momentos de turbulência interior, muitos buscamos alento nas crônicas, poemas, contos e romances de vários gêneros. Assim, sabemos distinguir autores e histórias do Nordeste, do Norte, do Sul, do Brasil Central e do Sudeste. Quem não leu Graciliano Ramos? Érico Veríssimo? Guimarães Rosa? E há também os mais modernos, que nos brindam com temas urbanos, informativos, futuristas e contemporâneos.

De modo geral, conhecemos os grandes nomes brasileiros e estrangeiros porque há um sistema literário que favorece as grandes tiragens, ofuscando os escritores interioranos e emergentes. Não é simples “furar a bolha” do local e do regional, conquistando reconhecimento em escalas maiores. Quase sempre, essa literatura é considerada menor, secundária, ou de qualidade inferior. No entanto, há uma efervescência de escritores locais que registram as próprias emoções ou ambientam histórias reais ou fictícias nos lugares onde vivem, eternizando cenários da múltipla e diversa realidade brasileira.

Entorpecidos pelos sistemas literários de amplo interesse comercial, os sistemas culturais locais, principalmente nas pequenas cidades (quando existem), deixam passar despercebida essa potencialidade pujante, que deve ser considerada como um patrimônio daquela comunidade. Há histórias, há memórias, há personagens fundantes, há razão e sensibilidade nessas escritas. O universal se manifesta no local, uma vez que, nas obras épicas, estão implícitos os motivos que trouxeram aquela pessoa ou a sua família para aquele lugar. O que fizeram, como fizeram, com quem fizeram, os legados que deixam e deixaram... Tudo isso se manifesta sutilmente ou de maneira barulhenta naquela obra. Com ela é possível fazer a ponte entre o presente e o passado, entre a norma culta e o linguajar popular, entre a técnica apurada e o coloquial na arte de escrever.

Projeto Nossa Gente

Nessa perspectiva, o Projeto Nossa Gente, vinculado ao curso de História e Geografia da FAI, tem como objetivo identificar e sistematizar manifestações das identidades regionais da Nova Alta Paulista, que se constitui na última porção do território paulista a ser colonizado por povos não indígenas, a partir das décadas medianas do século XX. O Projeto Nossa Gente vincula-se à Pró-reitoria de Extensão e, desde 2023, se propôs a mapear a literatura regional. Para isso, encaminhou ofício em parceria com a vereadora Terezinha Aparecida de Matos Vasconcelos, de Tupi Paulista, a todas as secretarias ou departamentos de Cultura das 30 cidades que compõem o nosso recorte espacial.

Por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Adamantina, do Conselho Municipal de Cultura, particularmente da pasta Literatura, e do Projeto Nossa Gente, já realizamos o 1º encontro de escritores de Adamantina, em novembro de 2024. Em 2025, realizamos a 1ª Semana Literária de Adamantina, entre os dias 22 e 25 de abril. Nesta última data realizamos o 1º Encontro Regional de Escritores, com ousadas pretensões. Ao longo da semana, tivemos a participação de centenas de pessoas, revelando o interesse pelo tema. Tivemos a participação de representantes de Tupi Paulista, Dracena, Herculândia, Osvaldo Cruz, Indaiatuba e Pindamonhangaba, indicando o interesse em estreitar conexões culturais e literárias intrarregionais.

Quem são e onde estão os nossos escritores? Quais obras e sobre o que escreveram? Como podemos ter acesso a elas? O que esses autores têm a nos dizer? O que os motiva a escrever? Com quais recursos realizam as suas publicações?

 

Fonte: Bibliotecas públicas municipais, Secretarias municipais de Cultura e Secretarias municipais de Educação das 30 cidades da Nova Alta Paulista, de 2023 a 2025.

 
A quantificação antecede as análises qualitativas que se desejam desenvolver com o intuito de promover a nossa caracterização literária, dispersa e pouco conhecida até pelos leitores locais. As universitárias do curso de História, Agda de Oliveira Pronto e Maria Eduarda Sibioni de Souza, padronizaram as informações recebidas, que serão disponibilizadas no site www.latitude21.com.br. O graduando Vitor Rafael Borges Filgueira fez a apresentação do evento, no dia 25.

O quadro síntese elaborado a partir das relações locais recebidas, não expressa a totalidade da literatura regional, uma vez que nem todas as obras estão disponíveis nos acervos consultados. Isso ocorre porque o autor não disponibilizou a sua obra ou porque a biblioteca não fez a aquisição. Ao mesmo tempo, considera-se que a arte da literatura é dinâmica e, a qualquer momento, pode haver um novo lançamento. Assim, pretende-se atualizar periodicamente esse mapeamento.

Observamos que poucas cidades têm ações específicas voltadas à valorização dos escritores e, portanto, da literatura local. Várias delas (12 cidades, correspondendo a 40% do total) não possuem escritores conhecidos. Poucas oferecem formação para que novos escritores surjam. Nenhuma conhece os escritores das cidades vizinhas.

Catalogamos 243 autores distribuídos em 18 cidades (60%), com 533 obras publicadas. Mesmo considerando que os acervos locais não estão completos, há um grande potencial a ser explorado. Infindáveis oportunidades permeiam a arte da literatura, iniciando-se pelo conhecimento dos dispositivos legais de apoio à Cultura. O principal deles é a implantação do Conselho Municipal de Cultura onde ele ainda não foi criado e, com ele, a pasta de Literatura.

Nas cidades onde o Conselho já está criado, é preciso avivar a pasta de Literatura. É preciso também criar o Sistema Municipal de Cultura, que contemplará todas as pastas vinculadas a ele e como isso se manifestará no município, considerando o suporte institucional, que envolve recursos humanos e financeiros. A partir daí, é preciso investir em capacitações para que os envolvidos e a comunidade conheçam as políticas nacionais, estaduais e municipais para a Cultura, para a Literatura e para as demais pastas.

Iniciativas como encontros locais de escritores são importantes para a criação de uma agenda de prioridades e de ações compartilhadas, com foco na valorização de nossos escritores, na identificação de novos talentos e na formação de públicos leitores. Outro passo importante são as conexões intrarregionais: o que está sendo feito em outras cidades, que podemos incluir nas nossas programações, enriquecendo e trocando saberes? São iniciativas criativas, de baixo impacto financeiro e de alto impacto social, diplomático e cultural.

Estamos inaugurando um novo capítulo na Cultura regional, certamente rico de aprendizado e de possibilidades. Juntos, é possível sonhar com a criação de acervos compostos por obras de autores locais, adquiridas por meio de compra, para distribuição gratuita às bibliotecas públicas municipais de cada uma das 30 cidades da Nova Alta Paulista.