
Psiquiatra forense Guido Palomba ministra palestra sobre a história da loucura e critica movimento antimanicomial
Psiquiatra forense Guido Palomba ministra palestra sobre a história da loucura e critica movimento antimanicomial
Evento foi uma realização conjunta do Poder Judiciário e Ministério Público do Estado de São Paulo (Comarca de Adamantina), FAI e Clínica Pai/Nosso Lar
05/03/18, às 10h03
Daniel Torres de Albuquerque - Colaborou: Siga Mais
O médico psiquiatra Guido Palomba, uma das mais importantes e respeitadas referências em psiquiatria forense no Brasil, realizou palestra na noite da sexta-feira, 2, no Auditório Miguel Reale, no Câmpus II do Centro Universitário de Adamantina (FAI), onde participou do I Simpósio Integrado de Direito e Medicina da Instituição. A palestra foi aberta ao público, que lotou o auditório.
O evento foi uma realização conjunta do Poder Judiciário do Estado de São Paulo e Ministério Público do Estado de São Paulo – Comarca de Adamantina, FAI e Polo de Atividades Integradas (Pai/Nosso Lar).
A programação teve abertura e exposição com a juíza da 3ª Vara da Comarca de Adamantina e diretora do Fórum local, Ruth Duarte Menegatti. “A palestra, além de seus aspectos históricos, pretende chamar a atenção para a situação do atendimento psiquiátrico do país. A ideia é levar essas informações a um público abrangente”, comentou a juíza.
Em seguida, o psiquiatra forense Guido Palomba passou a ministrar palestra com o tema “História da loucura: da antiguidade aos dias atuais”. “Procurei abordar um pouquinho da história da loucura, desde os tempos antigos até atualmente. Eu acho que hoje nós vivemos um momento de decadência da Psiquiatria pelo excesso do uso de remédios. Até brinquei com a turma dizendo que hoje se vende mais remédios antidepressivos do que Hipoglós [creme para assaduras]”, declarou.
Para o coordenador do curso de Medicina da FAI, Prof. Dr. Miguel Ângelo De Marchi, o assunto é muito relevante tanto para o Poder Judiciário quanto para a área da saúde. “Hoje, devido à ansiedade dos nossos alunos perante a sua formação e a sua aquisição de habilidades e competências técnicas para exercerem a profissão de Medicina, aliada a uma competitividade também muito grande e associada a uma situação prévia de problemas psicológicos e sociais envolvidos, podem ocorrer situações como suicídio ou violência”, opinou.
Críticas ao movimento antimanicomial
Em entrevista à equipe de reportagem da FAI, o psiquiatra forense Guido Palomba teceu duras críticas ao movimento de luta antimanicomial. “O sistema brasileiro de tratamento do doente mental está, na minha maneira de entender, quase que falido porque houve um movimento há uns anos chamado de ‘antimanicomial’ que fechou vagas hospitalares de uma forma bastante preocupante. Esse é um tema muito importante e, felizmente, existe um bom hospital psiquiátrico aqui em Adamantina que está sendo revigorado com um grande esforço coletivo para isso”, contestou.
Frente a isso, Palomba destacou a importância do tratamento adequado ao paciente com doença mental muitas vezes com necessidade de internação. “Todas as especialidades médicas, sejam elas quais forem: cardiologia, neurologia, traumatologia, infectologia... tem doenças que precisam ser tratadas em hospital. Nenhum médico interna sem necessidade. Calcule uma pessoa politraumatizada após acidente de automóvel não sendo tratada em regime de internação. Lembrando que a doença mental é uma doença como outra qualquer, mas que tem as suas características. Muitas vezes nós médicos somos obrigados a internar o doente para o bem dele mesmo. Esse movimento antimanicomial não passa de ideologias políticas que hoje estão bem ultrapassadas”, disparou.
O palestrante
Sempre chamado a opinar sobre casos mais complexos na área de psiquiatria forense, Guido Palomba se tornou célebre por participar da elucidação e análise de casos criminais que se destacaram nas últimas décadas, além de trabalhar ativamente em perícias civis de alta complexidade.
Guido Palomba graduou-se, em 1974, pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos e especializou-se em psiquiatria forense com título reconhecido pela Associação Médica Brasileira, Associação Brasileira de Psiquiatria e Sociedade Brasileira de Medicina Legal.
Foi médico e médico-chefe do Manicômio Judiciário de São Paulo (1975-1985) e é perito habilitado nos Tribunais Judiciários de São Paulo desde 1975.
Palomba tem atuado, desde 1985, como consultor convidado de alguns órgãos de comunicação para assuntos psiquiátrico-forenses, assim como professor convidado de algumas faculdades de direito, de psicologia e de medicina, entre outras entidades como a Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, Ordem dos Advogados do Brasil, Academia de Polícia de São Paulo, Polícia Militar, Associação Paulista de Medicina.
É membro do Conselho Editorial de revistas científicas e culturais, nacionais e internacionais. Foi diretor científico, no Brasil, do British Medical Journal.
Além de diversas obras publicadas como autor, autor-coordenador ou coautor, Palomba também publicou mais de duas centenas de artigos científicos e culturais. Possui ainda uma pequena coleção de livros raros e raríssimos de psiquiatria forense, de psiquiatria e de medicina legal.